Posted by John Cassidy
Em 1986, Mordechai Vanunu,
um ex-técnico nuclear, entregou ao jornal Sunday Times de Londres,
fotografias que havia tirado DE DENTRO do Centro de Pesquisa Nuclear do
Negev, próximo à cidade de Dimona, no deserto do Sinai, onde fica o
reator nuclear em ISRAEL.
No caso em que você tenha esquecido, o que não seria difícil dado que a menção à sua existência raramente é mencionada em debates públicos, a realidade de que ISRAEL tem talvez mais de uma centena de armas nucleares/bombas atômicas, ou talvez até um pouco mais do que essa quantidade, e que tem a capacidade para lançá-las a partir de silos subterrâneos, submarinos e bombardeiros F-16 de combate.
Fora do
ministério da Defesa israelense, muito poucas pessoas sabem exatamente
quantos mísseis nucleares que o país teria. De acordo com uma estimativa
da Agência de Inteligência de Defesa - DIA (Defense Intelligence Agency) dos EUA não classificada (secreta) de 1999, que foi citada em um boletim da Federação de Cientistas Americanos de
2007, ISRAEL tinha entre sessenta e oitenta ogivas
nucleares. Estimativas mais recentes dizem que o número é
consideravelmente maior.
O Institute of Strategic Studies - Instituto de Estudos Estratégicos de Londres diz que ISRAEL tem “até 200 ogivas” carregadas
em mísseis Jericó 1 e Jericó 2 baseados em terra de curto e de médio
alcance. JANE’S, a empresa especializada em Informação/Defesa, estima
que o número final de ogivas atômicas de ISRAEL esta entre 100 e 300 BOMBAS, o que coloca o arsenal nuclear israelense em pé de igualdade com as capacidades nucleares dos britânicos e franceses.
E algumas
dessas ogivas, se acredita ter sido embarcada no novo MÍSSIL BALÍSTICO
INTERCONTINENTAL JERICHO 3, que tem um alcance de até quatro mil e
quinhentos quilômetros, o que significa que teoricamente poderia atingir alvos na EUROPA e até na ÁSIA.
Desde os
anos 1960, quando Israel construiu sua primeira bomba atômica, os
sucessivos governos israelenses têm-se recusado a reconhecer a
existência do programa nuclear/atômico de ISRAEL que desenvolveu bombas
atômicas – posição oficial designada por uma palavra em hebraico,
amimut, que significa “opacidade”, “transparência-zero”.
E não se
trata só de ISRAEL reconhecer ou não reconhecer o fato de possuir ogivas
atômicas. Qualquer israelense que revele detalhes sobre o programa
nacional de bombas atômicas comete crime, pelo qual pode ser condenado a
longas penas de prisão.
Em 1986, Mordechai Vanunu,
um ex-técnico nuclear, entregou ao jornal Sunday Times de Londres,
fotografias que havia tirado DE DENTRO do Centro de Pesquisa Nuclear do
Negev, próximo à cidade de Dimona, no deserto do Sinai em ISRAEL.
Depois que
a história de Vanunu foi publicada pelo jornal inglês, agentes do
Mossad sequestraram-no em Roma, onde passava férias, e o levaram de
volta a ISRAEL. Vanunu então foi sentenciado e cumpriu pena de 18 anos
de prisão, 11 dos quais em confinamento (solitária).
Avner Cohen, o historiador israelense/norte-americano que, em 1998, publicou um livro/tese acadêmica sobre o programa nuclear israelense, “ISRAEL and the Bomb” [ISRAEL
e a Bomba] teve melhor sorte. Mas quando voltou a ISRAEL em 2001, para
uma conferência, foi preso e submetido a 50 horas de interrogatório por
agentes de segurança do Ministério da Defesa, que queriam saber dele
sobre as suas fontes de informações e as suas motivações para escrever o
livro.
E em 2002, Yitzhak Yaakov,
ex-chefe do programa de pesquisa de armas do exército de Israel recebeu
pena de dois anos de suspensão depois de escrever suas memórias (1). “Para mim, tudo isso é um pesadelo” – disse Yaakov, durante seu julgamento. “Acordo
pela manhã e lembro que fui interrogado, acusado de espionagem.
Disseram-me que eu era pior que Vanunu e que minha esposa é Mata Hari
(uma espiã).”
Agora que
Israel ameaça bombardear o programa de pesquisas nucleares para
finalidades pacíficas do IRÃ, conforme o governo daquele país – porque
nem os serviços de inteligência dos EUA acreditam que o mesmo tenha
evoluído até o estágio de poder construir bombas atômicas, segundo o
jornal Times (2) – a encenação (e arrogância) continua. Considerem a entrevista que Benjamin Netanyahu concedeu em 2010 ao meu ex-colega Jeffrey Goldberg, publicada em The Atlantic:
“Netanyahu
não poria a questão em temos de paridade nuclear – a política
israelense do amimut (opacidade, transparência zero e mentira total o
tempo todo) proíbe que
se reconheça a existência do arsenal nuclear israelense de mais de 100
bombas atômicas, bombas termonucleares de dois estágios, que podem ser
disparadas por mísseis, aviões bombardeiros ou submarinos (dois dos
quais, segundo fontes da inteligência estão atualmente posicionados no
Golfo Persa). Em vez disso, preferiu falar sobre o
programa iraniano como uma ameaça não só a ISRAEL, mas a toda a
civilização ocidental”.[3]
Evidentemente,
o governo de ISRAEL tem pleno direito de formular como lhe apraz as
suas políticas, considerados os interesses do país. E, também
evidentemente, os EUA (n.t. assim como os demais países do planeta deveriam) devem fazer o mesmo. Em seu discurso ao AIPAC, o presidente Obama disse o seguinte:
“Um
Irã nuclear é completamente contrário aos interesses da segurança de
ISRAEL. Mas também é contrário aos interesses da segurança nacional dos
EUA. Na verdade, todo o mundo tem interesse em impedir que o IRÃ chegue a
desenvolver uma arma nuclear. Um IRÃ armado com arma nuclear poria
abaixo todo o regime de não proliferação de artefatos nucleares que
tanto nos custou construir. Há riscos de que uma arma nuclear iraniana
caia em mãos de alguma organização terrorista. É quase certo que outros,
na região, sentir-se-ão obrigados a ter sua própria arma nuclear, o que
dispararia uma corrida armamentista numa das regiões mais voláteis do
mundo”.(4)
E em todo
aquele longo discurso, nem uma vez sequer houve qualquer menção à
existência das bombas atômicas israelenses, nem à persistente recusa,
por ISRAEL, de assinar o Tratado de Não Proliferação Nuclear (do qual o
IRÃ é signatário). Algum dia algum presidente dos EUA reconheceu
publicamente a existência das bombas atômicas de Israel?
Em seu livro mais recente, “The Worse Kept Secret: Israel’s Bargain with the Bomb” [O
segredo mais mal guardado: a barganha de Israel com a bomba] (5), Avner
Cohen refere-se a um encontro, em setembro de 1969, entre o presidente
Richard Nixon e Golda Meir sobre as bombas atômicas clandestinas de
Israel.
Esquerda: O livro mais recente de Avner Cohen, “The Worst Kept Secret: Israel’s Bargain with the Bomb” [O segredo mais mal guardado: a barganha de Israel com a bomba]
Avner Cohen refere-se a um encontro, em setembro de 1969, entre o presidente Richard Nixon e a então primeira ministra israelense Golda Meir (em foto à direita) sobre as bombas atômicas clandestinas de Israel.
Nenhum
registro escrito ou testemunho oral sobre o que se disse naquele
encontro sobreviveu, que se conheça; e o que os líderes disseram naquela
reunião permanece cercado do mais denso mistério. Em retrospectiva,
pode-se dizer que naquele encontro foi instituído a politica do amimut
como posição estratégica apoiada mútua e simultaneamente por ISRAEL e os
EUA.
O encontro
Nixon/Meir marca o local e dada do nascimento dessa barganha. Num
momento em que o lobby israelense dentro dos EUA, com a cooperação dos
candidatos Republicanos, pressiona o governo norte-americano para que
apoie a linha dura de Netanyahu de ISRAEL contra o IRÃ, talvez seja hora
de reavaliar aquela barganha.
Nem é preciso mudar muito. O regime de Teerã é profundamente antipático (n.t. E também profundamente fanático, como o regime sionista israelense),
e muitos de nossos outros aliados (dos EUA), incluídos a Grã-Bretanha,
França e Arábia Saudita, também estão decididos a impedir que o IRÃ se
una ao clube atômico.
Mas
reconhecer publicamente o que todos sabem sobre ISRAEL – que, sim, o
país é uma das potências nucleares do planeta – teria a grande vantagem
de salvar os EUA, tirando-o da posição vulnerável em que está,
repetidamente acusado de servir-se de dois pesos e duas medidas, no
relacionamento com o IRÃ.
Tradução, edição e imagens: Thoth3126@gmail.com
Fonte: http://www.newyorker.com
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