![MILHO TRANSGÊNICO: UMA MORTE LENTA E SILENCIOSA > Entrevista especial com Antônio Inácio Andrioli
"Se não bastasse a expansão de soja transgênica na agricultura brasileira, agora as lavouras do país serão invadidas pelo milho transgênico.
Além dos malefícios para a agricultura, produtos geneticamente modificados podem estar relacionados a uma série de epidemias que crescem na sociedade contemporânea, como o câncer e alergias alimentares. As plantas produzidas através da transgenia, explica o pesquisador, em entrevista concedida com exclusividade à IHU On-Line por telefone, são imunodeficientes, ou seja, piores que as desenvolvidas através do melhoramento genético tradicional. “Recentes pesquisas realizadas na Europa demostram que animais consumidores de produtos imunodeficientes também passaram a apresentar imunodeficiência, e, consequentemente, foram mais atacados por doenças”, alerta.
Depois de retornar do curso de pós-doutorado, na Áustria, o pesquisador está impressionado com o anonimato brasileiro em relação aos transgênicos, com a desinformação da população brasileira e a falta de interesse nesse debate. “Essa é uma discussão que interessa a todos, porque não tem ninguém que não coma. Portanto, todos estão sendo afetados pelo cultivo de transgênicos.” Em conversa com a equipe da IHU On-Line, o pesquisador alertou para o boicote de informações e denuncia que pesquisadores são perseguidos por colocar seus estudos à disposição do público.
...temos um problema estrutural, ou seja, um empobrecimento dos pequenos agricultores, o que contribui para aumentar a fome no campo e o êxodo rural. E é claro que, se utilizarmos a tecnologia dos transgênicos – que contribuem para o aumento dos custos de produção e ao mesmo tempo são cultivos que têm uma produtividade inferior aos convencionais –, aprofundaremos a lógica de dependência das técnicas. O agravante é que, como nunca antes visto, agora temos a dependência desde a gênese do alimento. O agricultor que planta a soja transgênica irá pagar royalties não só sobre a soja, mas também sobre o próprio glifosato que está embutido nesse pacote de compra das sementes. A empresa fatura duas vezes, enquanto o agricultor paga duas vezes. Essa é uma das grandes explicações para o aumento da desigualdade social e da fome na agricultura. É uma vergonha para o mundo ter 900 milhões de pessoas passando fome, mesmo numa situação de superprodução de alimentos."
> Leia esta excelente entrevista na íntegra aqui:
http://www.andrioli.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=124:milho-transgenico-uma-morte-lenta-e-silenciosa-entrevista-especial-com-antonio-inacio-andrioli-&catid=37:entrevistas&Itemid=53](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_t1P61wvBCjTShXn8py4B93QyBPO-nAeCWiD0njDK0YVR_2hqf2Hwarv1KOlM6Muemjqa6NL0k_ccaDMZYoqrM14iDkJ9rsZBCr6f6v32KEv4nns_q6OJduCaQzMUSNt8qZrZ5WbBFFIRyrXNptjW-MCjUwcMIDdae3WXmSALUQX0A=s0-d)
Foto de Gena Teresa.
Entrevista especial com Antônio Inácio Andrioli
Ter, 10 de Março de 2009 19:23
Se
não bastasse a expansão de soja transgênica na agricultura brasileira,
agora as lavouras do país serão invadidas pelo milho transgênico. Com a
falta de pesquisas e uma legislação ineficiente, o milho geneticamente
modificado surge com uma nova promessa: resistir a determinados insetos e
aumentar a produção. Sem a confirmação dos malefícios para a saúde, o
produto entrará na nossa cadeia alimentar a partir da próxima safra.
Antônio
Inácio Andrioli, um dos pesquisadores a por em pauta esse debate no
Brasil, está desapontado com a opção do país, e diz que a longo prazo o
cultivo representará uma catástrofe para os agricultores. "Já sabemos
que o milho transgênico vai produzir menos que o convencional e sua
produção vai custar mais caro”, adverte.
Além dos malefícios para a agricultura, produtos geneticamente
modificados podem estar relacionados a uma série de epidemias que
crescem na sociedade contemporânea, como o câncer e alergias
alimentares. As plantas produzidas através da transgenia, explica o
pesquisador, em entrevista concedida com exclusividade à IHU On-Line por
telefone, são imunodeficientes, ou seja, piores que as desenvolvidas
através do melhoramento genético tradicional. “Recentes pesquisas
realizadas na Europa demostram que animais consumidores de produtos
imunodeficientes também passaram a apresentar imunodeficiência, e,
consequentemente, foram mais atacados por doenças”, alerta. E recomenda:
“Deveríamos fazer a seguinte análise com relação aos impactos que isso
gera no ser humano: Essas plantas às quais me refiro contêm dentro de
suas célula – como no caso do milho transgênico – uma toxina sendo
produzida por um bacilo (Bacillus thuringiensis). Como já sabemos que o
contato de animais com o referido bacilo têm causado alterações no
sistema imunológico e reprodutivo, há uma grande probabilidade de
estarem aumentando as doenças no mundo, o que parece ser uma das
estratégias da indústria farmacêutica”.
No caso das plantas
resistentes a herbicidas, o agravante são os resíduos de glifosato
verificados nos alimentos, pois esses cultivos, como a soja transgênica,
permitem a aplicação de glifosato sobre a planta. Segundo o
pesquisador, “mesmo se utilizássemos uma fórmula de glifosato cem vezes
menor do que a utilizada na agricultura através do Roundup, teríamos uma
alteração celular dos animais e seres humanos, conforme revela recente
estudo realizado na França”. Andrioli também aponta para um segundo
problema: uma alteração no DNA (ácido desoxirribonucleico), onde se
encontram as características hereditárias de um ser vivo. “O DNA está
sendo afetado em função do uso do glifosato que passa através dos
alimentos em forma de resíduos.”
Depois de retornar do curso de
pós-doutorado, na Áustria, o pesquisador está impressionado com o
anonimato brasileiro em relação aos transgênicos, com a desinformação da
população brasileira e a falta de interesse nesse debate. “Essa é uma
discussão que interessa a todos, porque não tem ninguém que não coma.
Portanto, todos estão sendo afetados pelo cultivo de transgênicos.” Em
conversa com a equipe da IHU On-Line, o pesquisador alertou para o
boicote de informações e denuncia que pesquisadores são perseguidos por
colocar seus estudos à disposição do público.
Antônio Inácio
Andrioli é graduado em Filosofia, pela Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul (Unijui), mestre em Educação nas
Ciências, pela mesma universidade, doutor em Ciências Econômicas
Sociais, pela Universität Osnabrück, Alemanha, e pós-doutor, pelo
Instituto de Sociologia da Universidade Johannes-Kepler de Linz,
Áustria. Atualmente, é professor do mestrado em Educação nas Ciências,
na Unijuí e docente do Instituto de Sociologia da Universidade Johannes
Kepler de Linz. Ele é autor de Transgênicos: as sementes do mal (São
Paulo: Editora Expressão Popular, 2006). Acompanhe mais informações no
site do pesquisador www.andrioli.com.br
Confira a entrevista.
Se a produção alimentícia do planeta é superior ao consumo
dos seres humanos, por que a fome ainda é um problema não resolvido? Os
transgênicos estão contribuindo para esse cenário?
Antônio Inácio Andrioli –
A fome é um problema distributivo e não técnico. Assim, temos de
discutir as causas da desigualdade social, ou seja, temos muito mais
produção do que consumo. Mas o problema clássico da fome é o difícil
acesso aos alimentos produzidos, por parte de uma maioria que passa fome
e está abaixo da linha da pobreza no mundo. Paradoxalmente, a maioria
das pessoas que passam fome no mundo são agricultores que vivem no meio
rural, exatamente num local onde poderiam ser produzidos alimentos. Um
elemento central para entender isso – e que também nos remete à produção
dos transgênicos como fator importante – é o fato de os pequenos
agricultores não terem conseguido sobreviver ou serem inviabilizados na
atividade agrícola devido à monocultura. Eles têm dificuldades de
conseguir sobreviver no mercado, porque precisam aumentar a área de
produção para tornar viável a monocultura.
A base que está por
detrás disso é muito simples: a ideia liberal que fundamenta a lógica do
mercado, de que o agricultor deveria se especializar – isso significa
que ele diminui o próprio acesso à alimentação, portanto não produz mais
comida para si mesmo –, na expectativa de receber dinheiro suficiente
para comprar alimentos. Essa lógica não funciona, porque, ao aumentar a
produção dessas monoculturas, ocorre a diminuição de seu preço e um
aumento dos custos em função dos problemas técnicos gerados por esse
modelo de cultivo. Como acontece essa inversão, há uma menor renda
agregada para o trabalho desses agricultores, que estão se endividando
para comprar novas terras, insumos, e alguns até perdendo suas terras
para pagar as dívidas, se tornando assim agricultores sem terras.
Um problema técnico e estrutural
Então,
temos um problema estrutural, ou seja, um empobrecimento dos pequenos
agricultores, o que contribui para aumentar a fome no campo e o êxodo
rural. E é claro que, se utilizarmos a tecnologia dos transgênicos – que
contribuem para o aumento dos custos de produção e ao mesmo tempo são
cultivos que têm uma produtividade inferior aos convencionais –,
aprofundaremos a lógica de dependência das técnicas. O agravante é que,
como nunca antes visto, agora temos a dependência desde a gênese do
alimento. O agricultor que planta a soja transgênica irá pagar royalties
não só sobre a soja, mas também sobre o próprio glifosato que está
embutido nesse pacote de compra das sementes. A empresa fatura duas
vezes, enquanto o agricultor paga duas vezes. Essa é uma das grandes
explicações para o aumento da desigualdade social e da fome na
agricultura. É uma vergonha para o mundo ter 900 milhões de pessoas
passando fome, mesmo numa situação de superprodução de alimentos.
Além
de ser um problema político e de distribuição, essa crise alimentícia é
também um problema de produção, pois estamos produzindo alimentos que
não consumimos como a soja, os quais têm servido para a criação
intensiva de animais na Europa. Os produtos oriundos dessa soja passam a
interferir nos mercados mundiais quando apresentam um valor mais abaixo
em relação ao preço desses mercados, o que faz com que localmente a
produção seja atingida e cause mais fome. Um exemplo claro disso é a
exportação de frango brasileiro para a Europa. Os europeus compram esse
produto a um preço que permite descartar as partes que eles não comem. O
que não é consumido passa a ser doado para a África. Isso tem destruído
a produção africana de frango, porque é uma concorrência insustentável.
Além de contribuir para a desigualdade
social, em que medida a produção de transgênicos também aumenta os
impactos da crise ambiental e financeira?
Antônio Inácio Andrioli
– Um dos grandes problemas da crise é a utilização de fonte energética
limitada. Não temos condições de continuar produzindo uma agricultura
através de químicos resultantes e derivados de recursos fósseis. Os
transgênicos são apenas uma nova fase da indústria química. Não é por
acaso que as empresas químicas financiam os transgênicos. As plantas
produzidas através da transgenia são imunodeficientes, ou seja, são
piores do que as plantas desenvolvidas através do melhoramento genético
tradicional. Então, a indústria química construiu uma forma de vender
mais produtos químicos com falsos argumentos de estamos numa nova fase
em que se substituiria a química. Essa agricultura tem gerado no mundo
uma dependência enorme de importação desses produtos, pois, para
importá-los, muitos países têm aumentado suas exportações agrícolas.
Isso faz com que se destruam os recursos naturais através das
monoculturas.
No capitalismo, com a lei das vantagens
comparativas, cada agricultor deveria conseguir se aproveitar de uma
situação em que ele possa ter os menores custos, ou seja, produzir o que
é mais adequado para um determinado momento do mercado e ter uma
vantagem comparativa em relação a outro produtor. Essa vantagem
comparativa em relação ao outro fez com que hoje tivéssemos a
generalização dessa lógica: cada país produzindo o que tem menor custo,
ampliando o mercado mundial. O fato é que, com uma situação de comércio
mundial generalizada – e o Brasil se insere dentro dessa lógica ao
apostar na agroexportação –, surgem problemas claros, na época não
apontados pelos liberais. O transporte, por exemplo, se baseia no uso de
combustíveis fósseis e o valor desse transporte precisa ser embutido
nos custos do produto. Esses gastos (ambientais e financeiros) poderiam
ser destinados à melhoria da qualidade de vida, da produção de alimentos
etc., ao invés de ser usado para destruição da natureza. Entramos assim
na lógica da mundialização do capital com a expansão do comércio e
daquilo que os liberais anunciavam como a grande esperança em termos
distributivos.
Como sabemos, na lógica da concorrência se
destroem muitos recursos e investimentos. Surgem, então, como resultado
final disso, as crises que fazem com que se destrua a produção para que
os preços não caiam.
Com a ajuda do Estado, lógica perversa do capitalismo se sustenta
Em
muitos momentos, vimos a necessidade de interferência do Estado, mas,
para que ele possa agir, é necessário deixar de investir em
infraestrutura e programas sociais. Assim, esse tipo de ajuda faz com
que se aumente a desigualdade social, porque aquelas empresas que
lucraram nesse processo de globalização são agora as beneficiadas
novamente através do Estado que usa recursos que deveriam ser destinados
à população, para salvar essas instituições. São tais empresas que,
também dentro da lógica capitalista, contribuíram para o acontecimento
desse caos.
Essa crise financeira é apenas o reflexo de um
problema muito maior: a maneira como produzimos e organizamos o consumo
no mundo. No momento que a forma de produção também está em crise,
deveríamos pensar em outras alternativas possíveis. Na agricultura, por
exemplo, deveríamos priorizar formas de produção menos dependentes de
recursos externos, e priorizar a agricultura que pudesse produzir
localmente para um mercado local. Assim, diminuiríamos as distâncias
entre consumidor e produtor. Esse tipo de economia regional que defendo
seria uma alternativa diante daquilo que hoje é o responsável, em boa
parte, pela crise que estamos vivendo.
Como
o senhor avalia a opção do Brasil pelo milho transgênico, considerando o
exemplo de recusa dos europeus e também as desvantagens já conhecidas
pelos agricultores com o plantio de soja transgênica?
Antônio Inácio Andrioli –
Já sabemos que o milho modificado vai produzir menos que o convencional
e sua produção vai custar mais caro. Então, não poderia ter um
interesse do agricultor em cultivar uma planta que não lhe oferece
vantagens. Mas, novamente, existe uma promessa de que essa planta seja
resistente a um determinado inseto, e isso realmente só será possível se
esse inseto se tornar, de fato, uma praga. É claro que em muitos países
esse inseto já é considerado praga, mas temos de nos perguntar também:
por que ele se tornou uma praga? Se com o uso desse tipo milho vamos
aumentar a incidência de pragas e o número de doenças – porque essa
planta é imunodeficiente –, então, a longo prazo, isso será uma
catástrofe para o agricultor.
Mas, infelizmente, há uma ideologia
muito grande por trás desse debate: a ideologia da técnica. A técnica
sempre carrega consigo uma ideologia, ou seja, os interesses pelos quais
uma técnica foi produzida. Esses interesses não são os mesmos dos
agricultores; pelo contrário, as empresas esperam que, através dos
problemas técnicos que esses produtos geram na agricultura, se possa
aumentar o consumo de produtos que essas indústrias fornecem, o que
logicamente significa um aumento no custo de produção dos agricultores.
O
grande problema, no caso do Brasil, é que os responsáveis pela
liberação desses produtos através da CTNBio (que está acima do governo e
da própria Constituição), são, em sua maioria, cientistas financiados
pela indústria química, interessada na expansão dos cultivos
transgênicos.
O milho transgênico pode contaminar as plantações tradicionais, produtos derivados e carne?
Antônio Inácio Andrioli
– O milho se contamina de uma lavoura para a outra, pois é uma planta
de pulverização aberta e cruzada, diferente da soja, que se autofecunda.
Então, com o milho transgênico teremos uma contaminação rápida,
decorrente dos primeiros cultivos. Em relação à contaminação da carne,
isso já ocorre com a soja transgênica, que tem resíduos do glifosato, e,
portanto, não deveria ser destinada à ração animal, pois produtos como
leite, ovos, carne são contaminados e geram problemas para a saúde. Essa
é uma soja que contêm de 14 a 33 miligramas de glifosato, por quilo, o
que está acima dos nossos próprios limites estabelecidos em lei (já
aumentados em 50 vezes por ocasião da liberação do cultivo de
transgênicos no Brasil).
O milho tem um agravante, pois o
utilizamos na nossa própria alimentação e também como ração animal.
Então, ele entrará diretamente na nossa cadeia alimentar. Nós já
consumimos o óleo de soja e a lecitina da soja está em milhares de
produtos, mas no milho isso é muito mais grave. Isso porque o brasileiro
come milho, e os seus derivados estão em toda a nossa cultura
alimentar. No momento em que o milho passa a ser transgênico, consumimos
uma planta que produz uma toxina em todas as suas células e essa
toxina, inadequada para a saúde, passa a fazer parte da nossa
alimentação humana, pois está gerando imunodeficiência no mundo inteiro.
O milho modificado poderá ser usado para a produção de agrocombustíveis? Quais as implicações disso?
Antônio Inácio Andrioli –
Essa tem sido a esperança anunciada por alguns defensores da introdução
de milho e soja transgênico, como o próprio presidente Lula, ao afirmar
que a soja transgênica não prejudicaria os motores. Entretanto,
precisamos avaliar se a água e o meio ambiente no entorno dessa produção
transgênica não está sendo contaminada.
Em que sentido a produção de transgênicos implica no adiamento da reforma agrária e da produção sustentável?
Antônio Inácio Andrioli –
Temos em torno de 100 milhões de hectares de terras no Brasil que estão
ociosas. Os transgênicos estão contribuindo para que mais agricultores
se tornem sem terras, porque estão se endividando. Para produzir soja
transgênica, a viabilidade é de uma pessoa trabalhando em 200 hectares,
isso significa que há uma necessidade de expansão da terra, ou seja, a
exclusão de pequenos agricultores, porque a terra é um recurso limitado e
não podemos aumentá-la.
Os transgênicos aumentam a concentração de
terra, a desigualdade social, o êxito rural. Por isso, temos de dizer
que os transgênicos são uma tecnologia não apropriada aos interesses da
maioria da população, porque geram problemas ambientais, sociais e de
saúde pública. Desse ponto de vista, a reforma agrária tende a ser mais
difícil no Brasil com o avanço dos transgênicos. Além disso, as terras
improdutivas estão sendo destinadas à reforma agrária, hoje passaram a
ser “produtivas” com a soja transgênica. Isso é um gravíssimo problema,
porque a soja transgênica permite a ampliação em milhares de hectares,
com menos gente trabalhando.
O senhor
percebe relações entre as empresas que produzem transgênicos, alimentos,
as que desenvolvem agrotóxicos e as farmacêuticas?
Antônio Inácio Andrioli
– Com certeza. As grandes empresas têm outras instituições sob seu
controle. A Novartis, que antes era uma empresa farmacêutica, hoje está
dentro da Syngenta. Gradativamente, se mudam os nomes dessas empresas
por questões relacionadas a sua imagem. Mas sabemos que as quatro
empresas que produzem transgênicos são e foram indústrias farmacêuticas e
são indústrias químicas. A Monsanto, por exemplo, tem mais de 100 anos e
enriqueceu através do fornecimento de químicos para as duas Grandes
Guerras Mundiais. A empresa difundiu, entre outros, o agente laranja –
utilizado na Guerra do Vietnã – como um produto que apenas dissecava
plantas. Depois, se utilizou isso na agricultura com o 2,4-D, um produto
ainda usado no Brasil, embora proibido. A Monsanto também tem difundido
a utilização de um hormônio para crescimento bovino, a somatotropina
(1), um produto proibido na Europa, mas liberado nos Estados Unidos e no
Brasil. Agora, essas empresas desenvolvem plantas imunodeficientes: as
plantas transgênicas resistentes a herbicidas e a insetos, que são,
comprovadamente, mais atacadas por pragas e doenças, o que demonstra que
elas são piores que as convencionais. Entretanto, elas permanecem no
mercado porque são uma grande fonte de riqueza para a indústria
farmacêutica.
Uma explicação para a imunodeficiência
Recentes
pesquisas realizadas na França mostram que animais consumidores de
produtos imunodeficientes também passaram a apresentar imunodeficiência,
sendo, consequentemente, mais atacados por doenças. Deveríamos fazer
uma análise seguinte com os impactos que isso gera no ser humano que
consome alimentos contaminados por glifosato (2). Esses alimentos
contaminados aos quais me refiro tem dentro de sua célula – como no caso
do milho transgênico – uma toxina sendo produzida por um bacilo, o
bacillus thuringiensis. Isso mostra que há uma grande probabilidade de
aumentar as doenças do mundo, o que parece confirmar uma das estratégias
da indústria farmacêutica. Infelizmente, essas questões não são
compreendidas pela população, e tampouco impedidas pelos órgãos públicos
que liberam esse tipo de produtos no Brasil, enquanto na Europa já há
oito países proibindo.
Tem crescido
bastante o número de pessoas com alergia alimentar e as epidemias de
câncer são evidentes. Esses prognósticos podem estar relacionados aos
transgênicos, agrotóxicos e a outras substâncias que estão presentes nos
alimentos industrializados?
Antônio Inácio Andrioli –
Nós precisamos fazer uma análise muito profunda disso. Apenas temos
alguns indicativos de pesquisas que estão sendo feitas. Em primeiro
lugar, temos poucos profissionais da área da saúde dedicados a esse tipo
de estudo, até porque as pesquisas nessa área são, em sua grande
maioria, financiadas pelas multinacionais interessadas na divulgação
desses produtos. Mesmo assim, temos 10% de pesquisas independentes no
mundo, as quais alertam para os riscos relacionados à saúde.
Uma morte lenta
Sabemos
que há uma modificação celular se utilizarmos o glifosato na
alimentação; se utilizássemos uma fórmula de glifosato cem vezes menor
do que a utilizada na agricultura através do Roundup (3), teríamos uma
alteração celular. Essa alteração celular é um problema, porque as
células estão crescendo desordenadamente. Isso poderia confimar nossa
suspeita de causarem câncer. Um segundo elemento importante é que hoje
estamos vendo que há uma alteração inclusive do ácido
desoxirribonucléico, responsável pelas características hereditárias. Ele
está sendo afetado em função do uso do glifosato que passa através dos
alimentos em forma de resíduos.
O bacillus thuringiensis pode
provocar imunodeficiência. A bactéria produz uma toxina que forma
cristais no intestino. Nos intestinos de insetos, após a ingestão desse
milho, é constatada uma desregulação intestinal, com consequencias
letais. Precisamos refletir sobre isso, porque o intestino é responsável
pelo controle daquilo que precisa sair e daquilo que fica no organismo.
Se desregularmos isso, passamos a produzir substâncias nocivas ou
passamos a acumulá-las no organismo.
Há inúmeros outros estudos
preliminares que estão sendo divulgados pelo mundo e apontam para o
aumento das alergias, porque estamos, de fato, com um elemento novo
sendo introduzido dentro de uma planta, sem que as pessoas saibam ou sem
que elas tenham consciência de que estão consumindo um alimento novo,
para o qual o organismo não está preparado. Assim como a planta não está
preparada para receber determinados gens estranhos a ela – porque essa é
a característica da transgenia, cruzando espécies vivas que na natureza
não se cruzam –, é claro que esses organismos terão uma reação, ou
seja, irão produzir também reações que não conhecemos. Eu posso ter uma
alergia a uma determinada planta e, quando os seus gens são inseridos
dentro de outra, aumenta-se a probabilidade de pessoas alérgicas.
É
claro que não temos estudos numa dimensão que nos permitam afirmar que o
aumento do índice de câncer, das alergias, da depressão e de outras
doenças que temos hoje seja em função do uso dos transgênicos. Mas os
dados são alarmantes, e sabemos que a imunodeficiência pode ser
resultado do consumo dos transgênicos, o que abre campo para um conjunto
de doenças que pareciam combatidas.
Contaminação
Uma
segunda questão é o aumento dos produtos químicos na agricultura. Na
produção transgênica do Brasil, são misturados herbicidas, inseticidas,
fungicidas, tudo no mesmo pulverizador para facilitar a aplicação de uma
só vez. Só que não sabemos o efeito dessas bombas químicas que hoje são
despejadas nos alimentos e no lençol freático. Estamos consumindo águas
e alimentos com resíduos de produtos químicos, cujos efeitos não
conhecemos. Existem produtos no mundo hoje, como pesticidas,
inseticidas, fungicidas, que têm propiciado determinados tipos de
câncer, e que hoje deveriam estar proibidos, mas são utilizados porque
os agricultores não conseguem dar conta dos inços que tem se tornado
resistentes ao glifosato, sem analisar as consequências que isso tem a
saúde.
Existe a lei da rotulagem e identificação desses produtos,
mas ela apenas confirma que a maioria dos produtos a base de soja são
transgênicos. Ainda não há uma consciência de que os transgênicos são
responsáveis por problemas de saúde, problemas técnicos na agricultura,
que eles têm contribuído para o aumento da fome, porque essa informação
não chega. Os meios de comunicação no Brasil não têm colocado na pauta
essa informação.
Notas:
(1) Somatotropina
é um hormônio secretado pela glândula pituitária. Esse é um potente
hormônio anabólico que afeta todo o corpo humano, tendo funções como o
crescimento muscular, ligamentar e cartilaginoso, influência na textura
da pele, diminuição da lipólise e outros efeitos.
(2) O glifosato
é um herbicida sistêmico não seletivo (mata qualquer tipo de planta)
desenvolvido para matar ervas, principalmente perenes. É o ingrediente
principal do Roundup, herbicida da Monsanto.
(3) O Roundup é um
pesticida fabricado pela Monsanto cuja base é o glifosato. Estudos
indicam que mesmo em pequenas quantidades o pesticida pode ser nocivo à
saúde humana. O surgimento de Roundup se deu em 1970, com a síntese do
glifosato, ingrediente ativo do herbicida. Em 1974, Roundup foi
registrado pela primeira vez para uso na Malásia e no Reino Unido e dois
anos depois nos Estados Unidos. O Brasil recebeu sua primeira amostra
para testes em 1972 e em 1978 o produto, ainda importado, chegava ao
País para ser comercializado. Ele passou a ser produzido no Brasil em
1984
Fontes: http://www.andrioli.com.br/ |
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